miércoles, 10 de mayo de 2017

Primeira fazenda urbana da América Latina será inaugurada nesta quinta-feira, em Belo Horizonte

Depois de três meses de espera, a primeira fazenda urbana da América Latina – e a nona no mundo – será inaugurada em Belo Horizonte (MG) nesta quinta-feira (dia 11). A BeGreen, que tem à frente o administrador público Giuliano Bitencourt, 26 anos, e Pedro Graziano, 29, busca tornar a cadeia de alimentos mais sustentável, eliminando um de seus maiores entraves: a distância entre o produtor e o comprador. A ideia da fazenda urbana é justamente cultivar produtos o mais perto possível do consumidor. Por exemplo, ao lado de um shopping center, no caso o Boulevard Shopping, localizado na Avenida do Contorno, no bairro Santa Efigênia, na região Centro Sul de Belo Horizonte.


A fazenda urbana sediada no centro de compras ocupará uma área de 2,7 mil metros quadrados, com uma estufa de 1,5 mil metros quadrados e capacidade para produzir peixes e até 50 mil pés de alfaces baby e ervas por mês usando a Aquaponia. Além da estufa, o espaço contemplará, ainda, com uma loja, a Casa Horta, para vender os produtos cultivados na fazenda urbana e dar espaço para produtores locais da região.
O empreendimento segue o conceito de que a produção ocorra no Centro da cidade e o consumo, em raio de 10 quilômetros. Nos planos há, também, um restaurante no conceito “farm to table” (da fazenda para a mesa), a Casa Amora. O estabelecimento servirá refeições preparadas com as hortaliças da fazenda urbana. Na estrutura, que contempla palco e espaço de convivência, serão realizados eventos, palestras relacionadas à vida saudável e sustentabilidade e o empreendimento será aberto à visitação de estudantes. A expectativa é de atender 1 milhão de pessoas por ano.

O empreendedor fala do setor em que está inovando: “Hoje, a cadeia é ilógica. O alimento viaja 150 quilômetros até chegar ao seu prato. Isso aumenta o custo, o desperdício e não remunera bem o produtor”, enfatiza. E prossegue nessa linha de raciocínio: “Há tanta gente passando fome e nós, aqui, gastando energia, combustível, sol, horas de trabalho para fazer algo que vai para o lixo. Não faz sentido”, afirma Bittencourt.

Preocupações como esta levaram o empreendedor a estudar administração pública. Movido pelo propósito de “fazer a diferença na sociedade”, cursou a graduação na Fundação João Pinheiro, e, atuando no governo de Minas Gerais, foi um dos fundadores do Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), em 2013, o primeiro programa de aceleração de startups do país com dinheiro público.

O Seed tem o objetivo de tornar o estado um grande polo de inovação na América Latina. Seu programa acolhe 40 startups por rodada, com capital semente de até R$ 80 mil e aceleração. Atualmente, está na quarta edição, e já acelerou mais de 120 startups em três anos. Por causa do Seed, Giuliano teve a oportunidade de conhecer o Media Lab, um projeto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que reúne laboratórios interdisciplinares. Lá, conheceu a proposta inovadora das fazendas urbanas. Com mudança de governo, o Seed parou durante seis meses e quase acabou – o fim do programa só foi impedido por pressão do ecossistema empreendedor que, afinal, ajudou a criar e fortalecer.       

Empreendedorismo

O Seed continua ativo, mas a instabilidade fez Giuliano perceber que era hora de empreender no setor privado. A ideia da fazenda urbana não saía da cabeça do jovem criado em Divinópolis, município distante 120 quilômetros da capital mineira. Aquilo remetia à infância, quando frequentava o sítio da família, e ele se sentia revigorado com a possibilidade de fazer esse resgate. “Quando as pessoas vêm para a cidade, perdem a conexão com a comida. O leite vem da caixinha. É bom mostrar para a criança que a alface não vem da geladeira”, declara.
Até então, sua forma de manter-se conectado com o campo era alimentando o blog e Instagram Menu do Zé, onde repete as receitas que o pai cozinhava no sítio. Mas era hora de empreender. E Bittencourt, então, apresentou a proposta da fazenda urbana para Pedro, um amigo de quando trabalhava no Seed. O sócio também tem uma conexão forte com a terra. Formado em administração pela Universidade de São Paulo (USP), é natural de Araras (SP), e sua família é de agrônomos e possui um “pesque e pague”, além de criar rãs e coelhos.

Cooperação

 Em 2014, a dupla arrendou uma fazenda de um amigo em Betim (MG) e deu início à produção de alface crespa hidropônica orgânica. Animados, compraram um caminhão com câmara fria que custou R$ 100 mil - e foi roubado quando ainda estava sendo pago. A solução foi arranjarem um outro, emprestado, até conseguirem ter dinheiro o suficiente para adquirir um usado. Com a pressão maior causada pelo prejuízo, eles decidiram mudar o produto, que era pouco competitivo.

Bittencourt conta que ele e Pedro foram a São Paulo fazer uma pesquisa em hortifrutis em busca de outras opções. “Vimos que existia uma linha de alface baby que era mais saborosa e resistia mais tempo na geladeira. Em seguida achamos uma empresa na Holanda, a Rijk Zwaan, que começou a plantar essa semente”, conta. Os holandeses os ajudaram com o desenvolvimento e cultivo do produto, transmitindo conhecimento e trocando P&D (pesquisa e desenvolvimento). Em contrapartida, os brasileiros abrem para eles os números de produção (variáveis medidas nas plantas) e fazem um evento por mês para difundir o Love My Salads, que é a plataforma de conteúdo da marca. A estratégia agradou.

Com a resposta na mão, foram de supermercado em supermercado, restaurante em restaurante, oferecendo o produto, até conseguirem a garantia de compra dos fornecedores em 60 dias, tempo necessário para a mudança do cultivo. O passo seguinte foi desenvolver uma embalagem que mantém o pé com a raiz e água, permitindo que fique até sete dias fora da geladeira. Isso fez com que o desperdício caísse em até 80%.

Com uma produção de até 100 mil pés de alface, rúcula, agrião e temperos, em 2016, eles perceberam que o negócio tinha fôlego para deslanchar. Começaram, então, a buscar lajes em São Paulo. A ideia era colocar em prática a ideia da fazenda urbana na maior metrópole do país, mas a solução aconteceria em Minas Gerais. Durante uma feira de produtores, das muitas que eles costumam ir para receber o feedback dos clientes, o gerente de Marketing do Boulevard Shopping gostou da ideia e ofereceu um estacionamento ocioso. Mas não seria tão fácil. Inovar não é simples, e a legislação urbana não prevê a construção de uma fazenda urbana no topo de um prédio, como eles inicialmente imaginaram. A solução foi desistir do estacionamento e usar um espaço no térreo.

A BeGreen administrará apenas a fazenda, mas eles acharam que seria interessante ter o restaurante e a loja, e convidaram parceiros que já atuam nestas áreas para investir no complexo. Além das hortaliças já produzidas na fazenda de Betim, a fazenda no shopping terá tomate, pepino, pimentão, cenoura e cebola – alimentos que estão entre os que mais usam defensivos, segundo levantamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os produtos custarão R$ 5,00.

O empreendedor prevê dez funcionários trabalhando no complexo, e tem planos para eles também. “É preciso que morem no entorno, porque queremos zero emissão de carbono no deslocamento. Queremos que eles possam vir a pé ou de bike”, diz Bittencourt. Ele conta, também, que o vale refeição ou alimentação poderão ser gastos na Casa Horta ou na Casa Amora e que os funcionários terão a opção de fazer ioga ou academia “para virem trabalhar energizados”. “Além de falar que vamos vender coisas do bem, nós vamos fazer o bem, porque não adianta nada o greenwashing [publicidade sustentável] e vender produtos bonitinhos se os funcionários não respiram na mesma essência”, acrescenta o administrador.

Outra preocupação é que o lucro não seja o único objetivo da BeGreen. Como no entorno do Shopping Boulevard há favelas, a ideia é que em um segundo momento a empresa passe a compartilhar tecnologia e ensinar os moradores a fazerem hortas comunitárias, por exemplo, além de doar parte da produção. “Nossa ideia não é tirar o máximo da fazenda. Se com determinado volume de vendas o projeto se pagar, conseguiremos crescer com outras fazendas e poderemos doar o excesso”, conta.

Depois que o shopping abraçou a ideia, a Liga Ventures, que toca a Oxigenio, aceleradora da Porto Seguro, entrou como investidora e acelerou a BeGreen. Bittencourt se prepara, agora, para uma nova rodada de investimentos, com o objetivo de levar o projeto das fazendas urbanas a outros lugares do Brasil. Já existe uma negociação para implementar uma fazenda urbana em São Paulo, e a expectativa é de abrir as portas de outra, no Rio de Janeiro, até o fim do ano. “Queremos levar a cultura de fazendas urbanas para o máximo de grandes centros possíveis no Brasil e espalhar esse estilo de vida de consciência na alimentação”, diz o empreendedor, que vê com bons olhos ser vizinho de um shopping. “Um espaço de consumo consciente ao lado de um palácio de consumismo é meio antagônico, mas é isso que a gente quer promover: conscientização para as pessoas entenderem que o mundo mudou e o consumo desenfreado não pode ocorrer mais”, completa.

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martes, 9 de mayo de 2017

Vantagens do sistema semi-hidropônico atraem produtores de morango em Piedade

As vantagens do sistema semi-hidropônico estão atraindo os produtores rurais de Piedade, município que é responsável por 7% da produção de alimentos entregues à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Embora os custos de implantação sejam mais altos, a técnica permite ampliar o período de produção e garante renda ao longo de vários meses.


O morango é uma delícia e dá um charme especial em muitas sobremesas. E a melhor época para colheita da fruta é entre os meses de agosto e dezembro. O sistema semi-hidropônico, no entanto, permite ampliar o período de produção.
As mudas são cultivadas em estufas e plantadas em sacos plásticos específicos, conhecidos como bags ou slabs. Em cada saco cabem cerca de 14 pés de morango. Outra diferença em relação ao plantio convencional, no solo, é que as plantas ficam suspensas em cavaletes, facilitando o manejo dos vegetais.

No sítio de Tieko Sasada e Yoshiteru Sasada, em Piedade, a produção de morango nesse sistema começou há cinco anos e o casal só vê vantagens no cultivo. Os produtores destacam a facilidade na colheita, já que não precisam ficar abaixando para pegar as frutas. Outro ponto favorável é a diminuição das pragas e doenças, já que as plantas não têm contato com o solo. As variedades plantadas são a Monterrey, com alta capacidade para produzir no verão, e a Albion, que tem como principal característica a excepcional qualidade de fruto, tanto por tamanho como pelo seu sabor e firmeza.

Na época da implantação, Yoshiteru diz que estudou bastante sobre semi-hidroponia e que até viajou para conhecer cultivos semelhantes. Hoje, ele tem 15 mil pés plantados e pretende cultivar mais 4 mil. O engenheiro agrônomo Bruno Matsuo informa que, nesse sistema, o agricultor consegue uma economia de 40% de água e defensivos, mas alerta que é preciso cuidado para ajustar o manejo.

José Duaceck plantava morango de forma convencional e, na entressafra, tinha que lidar com hortaliças para garantir a renda da família. Há alguns anos, ele investiu no sistema semi-hidropônico e hoje pode se dedicar exclusivamente ao morango. O agricultor conta que a implantação do sistema tem investimento elevado, cerca de R$ 15 mil por estufa, mas que a manutenção é bem mais barata e o retorno do investimento é rápido.

Os 32 mil pés do local produzem nos meses quentes cerca de 100 caixas de morango por dia. Já nos meses frios, a produção é de cerca de 60 caixas por dia. E, nesse caso, a grande vantagem é o preço na época de entressafra.


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